VISITAS A DETIDOS E PESSOAS ISOLADAS

Uma investigação promovida pela Misericórdia de Paris (2008)[i] revelou que um número significativo dos idosos de origem portuguesa a residir em França sofria com muita frequência (10,7%) ou de vez em quando (24,7%) de solidão. Por outro lado, 12,7% afirmava sentir-se deprimido com muita frequência e 33,5% com alguma frequência. Muitos dos nossos compatriotas sofrem de solidão. São sobretudo pessoas idosas, mas também doutras faixas etárias.

 

Em França, há cerca de 10 milhões de mulheres e homens que vivem isolados. De acordo com o INSEE, em pouco mais de meio século, a percentagem de pessoas nessa situação passou de 6% (1962) a 16% (2016) da população total. Por seu turno, um relatório do Secours Catholique (2016) revela que a maioria dos que são recebidos nas permanências de acolhimento (1 438 000) procura alguém que os escute, o que corresponde a 60,2% das solicitações (58,9% dos franceses e 64,2% dos estrangeiros em situação regular). Os pedidos de alimentação aparecem em segundo lugar (56,0%)[ii].

Tal como há pobreza envergonhada, também existe solidão encoberta. Não se manifesta, sofre-se. A pessoa não tem contato com os outros. Sente-se rejeitada e não ousa pedir ajuda. O pior que pode acontecer é não ter ninguém com quem contar nos últimos anos de vida, quando mais se precisa de afeto, compreensão e carinho. É uma tristeza! Não basta dar mais anos à vida, é preciso dar mais vida aos anos.

 

Preocupado com esta questão, o Conselho de Administração da Santa Casa da Misericórdia de Paris dedicou as Jornadas Sociais de 2018 à reflexão sobre as diferentes formas de combate a solidão e a organização de uma rede de apoio, escuta, diálogo, visita e animação. Precisamos de boas vontades com disponibilidade para assinalar e acompanhar pessoas nessa situação, dar sugestões oportunas e enviar a respetiva candidatura para colaborar como voluntário/a. Agradecemos, desde já, a sua colaboração.

Ainda nesse âmbito, em 1994, começamos a colaborar com a rede consular na campanha de distribuição de cabazes de Natal – substituídos por um vale postal, a partir de 2004 – junto de reclusos de origem portuguesa, uma iniciativa que atualmente está ao encargo exclusivo da Misericórdia de Paris. Em 1997, integrámos a Association Nationale des Visiteurs de Prison, não tendo ainda havido voluntários para fazer a formação necessária. Todavia, ao longo destes anos, com a colaboração da irmã Elisa Borges – que desde os anos 70 começou a visitar os nossos compatriotas detidos – foram realizadas algumas iniciativas junto dos presos lusófonos, as últimas das quais com a participação do grupo de jovens do Santuário de Nª Sra. de Fátima, em Paris.

 

[i] Almeida, A. (coord). Os Portugueses de França na hora da reforma (bilingue), Paris: Ed. Lusophones/Misericórdia de Paris, 2008.

[ii] ”Rapport statistique 2017, réalisé à partir des statistiques d’accueil en 2016 du Secours Catholique Caritas France”. Por ordem decrescente, depois da escuta e alimentação, aparecem as despesas com alojamento (18,5%), vestuário (10,2%), diligências administrativas (7,6%), transportes (6,5%) e outros (21,5%).